Os jornalistas paranaenses, reunidos em sessões de assembleia geral extraordinária na noite de segunda-feira e ao meio-dia desta terça-feira, aceitaram a contraproposta patronal de reajuste salarial de 5% (inflação de 4,68%, mais 0,32% de aumento real). Ao todo, foram 110 votos a favor e 75 contra a proposta patronal, que também inclui a expansão da licença maternidade de quatro para seis meses e a renovação das demais cláusulas da convenção vigente.
Em Curitiba, na sessão de segunda, foram 89 votantes, sendo 59 favoráveis e 30 contra. No interior, a maioria dos votos foi contra o aumento real de 5%. O placar em Foz do Iguaçu foi de 18 contra a proposta e três a favor. Em Cascavel, o "não" levou vantagem frente à proposta patronal (11 votos a 7). Já em Ponta Grossa todos os nove votantes aceitaram os 5%.
A posição favorável à adoção da proposta chegou à sessão final da assembleia, em Curitiba, nesta terça, com 19 votos de vantagem, mas não houve mudança no panorama. A última sessão teve o placar de 32 a 16 pela adoção da contraproposta dos dois sindicatos patronais.
Com isto, o novo piso salarial passa a R$ 2.151,56, um aumento de R$ 102,45. O retroativo incide sobre os nove meses sem aumento, desde outubro, mais o décimo terceiro salário, o que, para quem ganha o piso, significa mais R$ 1.024,50, a ser pago tão logo seja assinada a convenção. Ficou acertado que a categoria apenas aceitará o pagamento em parcela única deste valor. A assessoria jurídica já começou a elaborar a minuta da convenção.
Sessão de assembleia | Favoráveis à proposta | Contrários à proposta |
Curitiba (segunda à noite) | 59 | 30 |
Foz do Iguaçu | 3 | 18 |
Cascavel | 7 | 11 |
Ponta Grossa | 9 | 0 |
Curitiba (terça ao meio-dia) | 32 | 16 |
TOTAL | 110 | 75 |
Avaliação - Esta negociação – que foi arrastada e, em determinados momentos extenuante – serviu ao menos para mostrar que somos uma categoria de trabalhadores e, a espelho das demais, quando mobilizados, alcançamos conquistas. Depois de 14 anos, finalmente não recebemos a inflação ou menos que isto. É a repetição deste espírito de mobilização, este barulho para demonstrar nossa insatisfação, que vai nos conduzir a ganhos reais ainda maiores.
A Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná vem a público agradecer a participação de todos os que se manifestaram ao longo destes nove meses e 12 dias – e antes, desde o Congresso de Foz do Iguaçu –, e pede a todos que não se esqueçam que a luta está apenas começando. Em 1º de outubro, teremos uma nova data-base, e a diretoria estadual fará um esforço para visitar o maior número possível de redações recolhendo propostas a ser apresentadas aos empresários ainda na primeira quinzena de agosto.
Assédio – Momento decisivo da discussão sobre a convenção coletiva de trabalho, quando a autonomia e a independência dos trabalhadores deveriam ser plenas, esta segunda-feira foi marcada por um caso grave de violação da liberdade de organização obreira. A poucas horas da primeira sessão da assembleia, o diretor do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom), Guilherme Döring Cunha Pereira, reuniu os jornalistas do jornal Gazeta do Povo para pressioná-los a aceitar a proposta de reajuste de 5%, sob risco de corte de postos de trabalho.
Cunha Pereira reclamou que os resultados financeiros do jornal não eram favoráveis e que os jornalistas deveriam dar mais uma cota de "colaboração" e aceitar a proposta. Ante os jornalistas, o empresário demonstrou impaciência pelo não fechamento da convenção coletiva, o que, segundo ele, estaria ainda atrapalhando o andamento do acordo de banco de horas e extensão da jornada. Visivelmente agitado, fez um discurso em que afirmou que não seria aceita nenhuma proposta de aumento superior aos 5% já oferecidos pelos sindicatos patronais.
Lembrando que a Gazeta possui cerca de 200 jornalistas em seus quadros, deu a entender que, se tivesse de implantar um reajuste maior, poderia "mudar o modelo" e trabalhar com uma redação bem mais enxuta, a exemplo de jornais como o Zero Hora, de Porto Alegre, numa ameaça clara de corte de postos de trabalho.
A ação de Cunha Pereira ao intimidar os trabalhadores jornalistas antes de uma decisão é merecedora de toda a repulsa da categoria. A autonomia dos trabalhadores para definir os seus destinos deve ser ampla, sem condicionamentos ou pressões externas. O que se viu foi um caso grave de restrição à liberdade de organização obreira. O Sindijor vai tomar providências para sancionar esta conduta e outras mais que vierem a ocorrer. Sabendo da extensão e gravidade do caso, o Sindicato precaveu-se propondo e realizando votação secreta na assembleia de Curitiba, de maneira a por a salvo a independência dos jornalistas. O fundamental é que todos estes casos de assédio à liberdade dos trabalhadores sejam relatados ao Sindijor.
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